domingo, 31 de dezembro de 2017


O poeta só é reconhecido
se amigo ele for d’outros poetas,
que o leiam e o animem em sua arte,
divulgando o seu nome entre iguais.

Milhares de escritores e poetas
suas gavetas têm cheias de escritos,
às vezes publicados às suas custas,
fechados ora em caixas poeirentas.

Tantos poeta tornam-se um Quixote
e seus escritos, sua Dulcinéia.
Morrerão, então, velhos e esquecidos
e sua amada, simples ilusão.



Creio às vezes que não sou
um escritor demiurgo,
pois nem sempre o que escrevo
é uma criação minha.

Sou, talvez, um curador
recolhendo idéias várias.
E eu, a organizá-las,
vejo-me um literato.



Eu quero ser o Natal,
nascendo a cada dia,
deixando que o Deus-Menino
faça morada em mim.

Eu quero ser o pinheiro,
ao resistir bravamente
aos ventos fortes da vida,
enraizado em Deus.

Eu quero ser os enfeites,
dando cor e alegria
à vida de outras pessoas
pelos dons dados a mim.

Eu quero ser qual o sino
que ecoa ao longe o som,
chamando, unindo, reunindo,
a congregar as pessoas.

Quero ser luz do Natal
a iluminar co’mia vida
a senda de meus irmãos
com alegria e bondade.

Os anjos eu quero ser,
cantando ao mundo o Evangelho
que traz a paz e a justiça
e, sobretudo, o amor.

Eu quero ser a estrela
a conduzir toda gente
pelos caminhos da vida
a encontrar-se com Deus.

Os magos eu quero ser,
levando às mãos os meus dons
e entregá-los ao Menino
presente em cada pobre.

Eu quero ser a canção
co’ harmonia entoada,
meu interior revelando
u’a consonância com Deus.

Eu quero ser o presente
do Senhor ao ser humano,
fazendo-me fielmente
um grande amigo e irmão.

Eu quero ser o cartão
cuja mensagem de amor
e verdadeira bondade
em minhas mãos seja escrita.

Quero ser felicidade,
levando a todos perdão,
a paz restabelecendo
‘inda que esteja eu sofrendo.

Eu quero ser o presépio
a saciar de esperança
e do pão de cada dia
o pobre que há ao meu lado.

Serei noite de Natal
ao receber na humildade,
sem festas de Deus vazias,
o Salvador que é Jesus.

Serei sorriso e ternura
na paz de um Natal perene,
quando eu acolher em mim,
de fato, o Reino de Deus.

                                           dezembro de 2017
                sobre mensagem do Papa Francisco



Eu amo a vida criada,
os seres e todo o Universo,
e sou curioso da vida,
por isso eu saio a vivê-la.

E quando a vida me impede
de ir ao encontro do novo,
eu sento e ante meus olhos
um livro a vida completa-me.



A escrita para mim é uma gênese,
é um ato criador feito palavras,
e a cada criação que se conclui,
sinto pleno, dentro em mim, um demiurgo.

No entanto, são tantos poemas, versos,
que concebo, mas jamais eu os concluo.
Sinto neles cessar a inspiração
e, assim, tornam-se eles abortados.



Quando em mim eu confio
e em minha própria força,
quedo-me longe de Deus,
comprometendo mi’a vida.

No entanto, logo em seguida,
o Senhor me apresenta
situações em que devo
exercer a caridade.

Eu sinto, em tais momentos,
que estas provas de Deus
são frutos de Seu amor
por mim, simples ser humano.

Fico a pensar que, se um dia,
ao céu eu for acolhido,
o Senhor Deus me dirá:
“Como me deste trabalho!”



Indiferentes não podem
ser a alma e a mente daquele
que ofício tem de poeta.
O que me faz refletir
ou toca-me o coração,
não cessa de incomodar-me
(impede-me outras ações)
até que os torne palavras
e versos vindos do peito.
Se sou o poeta que penso,
o sou por colher de Deus
a fé e a razão doadas.